17 de agosto de 2013

O Lorenzo, a Judite e os monstros da comunicação

Quando cheguei hoje ao facebook dei por mim rodeada de pessoas a criticarem uma entrevista da qual nem tinha conhecimento. Antes de ir ver e ouvir, li alguns comentários e todos (ou praticamente todos) se manifestavam contra a entrevistadora e não contra o entrevistado.
Ora então, Judite Sousa - jornalista da TVI - entrevistou no jornal das oito o jovem Lorenzo Carvalho. Para quem não se lembra ou não viu nada disto, foi este jovem que fez uma festa de aniversário no Algarve e que convidou a Pamela Anderson. Para as mesmas pessoas que não se lembram ou andam alheias ao mundo, Lorenzo Carvalho é um milionário de 22 anos, natural do Brasil.
Primeiro que tudo, não percebo a razão e o interesse de entrevistar este jovem a meio de um telejornal generalista. Mas já que se leva uma pessoa a ser entrevistada que se faça um trabalho minimamente profissional e com algum brio.
Ao longo de dezasseis minutos e qualquer coisa, a jornalista Judite Sousa quase que crucificou o jovem por ter dinheiro. Por gastar dinheiro. A grande preocupação era saber de onde vinha este dinheiro e se Lorenzo não se sentia mal por estar a gasta-lo em «futilidades». Mais do que isso, a entrevista começa por referir que Portugal é um país que vive tempos conturbados. Que nesta situação as pessoas podem ficar indignadas com o dinheiro que Lorenzo tem e gasta.
Mais acima disse que não entendia a razão de entrevistarem esta pessoa. No entanto, até percebo. Estamos a ficar mesquinhos. E estúpidos. Os nossos meios de comunicação social - em que gostava mesmo muito de acreditar - começam a ser apenas locais utilizados para «picar» e irritar ainda mais a nossa sociedade.
Fazem questão de deturpar a realidade. Inventam. Estupidificam as pessoas. E quem os ouve, quem os lê acredita. Estamos a ficar um povo demasiado fragilizado e pouco racional para distinguir o certo do errado.
Os meios de comunicação são (mas não deveriam ser) um negócio como outro qualquer. Interessa vender. E vender o mau e o errado nunca foi tão fácil.
Quando era pequena irritava-me quando diziam que tinha que comer tudo o que estava no prato porque estavam meninos em África a passar fome. Por muito que quisesse ajudar os meninos, não era por comer o bife todo que eles iam ter menos fome.
Não é por ter dinheiro e comida na mesa que nos podem dar lições de moral e dizer que devemos ajudar toda a pobreza do mundo. O dinheiro se for ganho de forma honesta pertence a quem o conseguiu juntar. Não somos nós, armados em Deus na terra, que podemos opinar sobre a melhor forma para o gastar.
Este episódio do Lorenzo e da Judite fez-me recordar o da Pepa e da mala Chanel. Estamos demasiado preocupados com os sonhos dos outros, o dinheiro dos outros, a fama dos outros, a tatuagem na nádega direita dos outros.
Digam o que disseram, é a comunicação social que cria as histórias. E mais grave do que isso... é quem cria os monstros.

No fim disto tudo, o Lorenzo vai continuar a gastar a fortuna como bem lhe apetecer e cheira-me que vai continuar sem dar satisfações a ninguém. A Judite Sousa e a TVI conseguiram irritar uns quantos portugueses mas logo à noite vão continuar a ser líderes de audiências. O país vai continuar em crise porque enxovalhar os outros nunca resolveu os problemas de ninguém. E pronto. Amanhã é outro dia. 

Sem comentários:

Enviar um comentário