15 de agosto de 2013

Já dizia o outro

De todos os ditados populares portugueses que conheço aquele que diz "a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha" sempre foi o que mais fez sentido na minha cabeça. Não faço ideia como surgiu e, neste caso, o google não foi uma ajuda preciosa. No entanto, imagino que tenha sido por um motivo qualquer relacionado com inveja de qualquer coisa.
Passamos a vida a invejar e muita coisa da nossa vida são galinhas. Os outros têm sempre galinhas mais bonitas, mais gordas, mais vistosas que nós. Não sei se isto é necessariamente mau mas é muito comum.
Quando somos pequenos e temos um brinquedo preferimos sempre o brinquedo do miúdo que brinca ao nosso lado. Fazemos birra, esticamos o braço e largamos o nosso. Pode até ter sido mais caro, pode ser melhor mas o outro tem exactamente essa característica fundamental... não é nosso. E por não ser nosso, por não estar ao nosso alcance, por ser um «fruto proibido» torna-se melhor aos nossos olhos.
Lembro-me de ter o meu primeiro telemóvel quando andava na escola primária. Na altura já vários colegas meus tinham um mas no dia em que apareci com o meu (que em nada era melhor que os outros) todos queriam mexer. Todos queriam ver, experimentar, descobrir, jogar. E eu, mais do que nunca, queria usar os que não me pertenciam.
Quando comecei a armar-me em vaidosa as minhas amigas queriam a minha roupa e eu queria a delas. Os sapatos da Barbie da miúda X eram sempre mais giros do que os meus. A minha mala era sempre melhor para as outras raparigas do que para mim própria. Trocávamos as coisas como se fosse perfeitamente natural. A sensação da novidade, de ter uma coisa nova ainda que momentaneamente valia a pena.
Ainda hoje tenho por aí malas, bonecas e carros de bonecas espalhados sem lhes saber do rasto. Da mesma maneira que também tenho arrumadas no sótão muitas bonecas que nunca me pertenceram.
Tudo na vida funciona basicamente assim. Quer queiramos, quer não. Quer achemos correcto ou inconveniente.
Se uma pessoa comprar uma televisão nova quando formos a casa dela vamos gabar a televisão, dizer que sempre sonhámos em ter uma assim. Carregar nos botões, experimentar o comando, ver a luminosidade. O mais irónico é que, provavelmente, nunca tínhamos sequer pensado em ter aquela televisão. Se um casal de amigos tiver comprado uma casa e outro casal for visita-la vão sempre existir comentários típicos: "Zé, eu bem te disse que este sofá era giro!" ou "Estás a ver! O João trata do jardim e tu não queres saber de nada!".
Provavelmente, e porque quero seguir uma linha cronológica, quando se chegar a uma certa idade vamos criticar a nossa família porque a vizinha do lado foi posta num lar em que o almoço é melhor do que no nosso.
Somos, por condição humana, inconformistas. E às vezes um bocadinho irracionais. Por isso, levamos a vida a querer apanhar as galinhas dos outros e a oferecer-lhes as nossas. Não sabemos bem porquê. Até aquele momento a nossa galinha era perfeita. Numa fracção de segundos descobrimos a galinha dos ovos de ouro.

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