19 de julho de 2014

Parabéns e volta sempre

Na quarta-feira fui à faculdade pedir o certificado de final de curso. Parabéns aqui, parabéns ali.

- Como é que te sentes? Então e planos? Já sabes o que vais fazer? O que a trouxe por cá? Não se esqueça de nós. 

Um pouco como quando vamos a casa de amigas das nossas avós e temos que fazer o relatório - ao pormenor - dos últimos dez anos de vida.

A reflexão aqui centra-se na dificuldade que é chegar ao fim. O fim trama-nos sempre. O fim de um amor, o fim de um livro, os últimos segundos de um bom filme ou o fim de uma boa noite de sono. Os fins, meus caros, são uma das piores invenções. De todos os tempos.
Chegar ao fim é como chegar a um precipício. Não há volta a dar. Não é um até já, nem um não te preocupes que mais logo volta tudo. É mesmo o terminar. O acabar. Finito.
Eu, que nem sou pessoa de sofrer com qualquer fim, tenho a dizer que este é doloroso. Para quem tem aquela ansiedade incontrolável do fim: não façam isso. Deixem-se ficar e não tenham pressa. Para além de, dizem os sábios, a pressa ser inimiga da perfeição, quanto mais pressa se tem maior será a queda.
Quando se chega ao fim, chegam as dúvidas. Na verdade nem são bem dúvidas. São dificuldades. É preciso procurar e insistir. É preciso ter sangue frio para levar um não chapado na cara e mesmo assim continuar a acreditar. Ter o descaramento de fazer diferente, de arriscar e tentar ir o mais longe possível. É preciso fazer sacrifícios. Demasiados. Aprender a valorizar o trabalho e a não deixar que nos tratem eternamente como escravos.
E outra coisa. É preciso ter noção de que não sabemos tudo. Na verdade, de que não sabemos nada.

O fim faz-nos duvidar de nós próprios. Se calhar seguimos o caminho errado, se calhar não era bem isto e devíamos era ter sido médicos ou engenheiros. Ou ao contrário. Se calhar devíamos ter ouvido a mãe e a avó. A professora do primeiro ano e a vizinha do lado que tem um filho que trabalha na informática e ganha bom dinheiro.
É preciso algum tempo para que o fim se transforme num novo início. Mas enquanto não se consegue, sofre-se. Passa-nos muita coisa pela cabeça e não queremos ser uma desilusão. Não queremos ouvir eu bem de avisei. É preciso paciência mas, sejamos sinceros, ninguém chega ao fim com paciência.
Nesta época em que nada - ou muito pouco - é uma certeza, custa muito ver o fim da linha. Especialmente desta.


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