É difícil ter vinte anos. Apesar
de saber que neste momento está alguém a dizer “Desgraçada, ter vinte anos é
facílimo. Vocês têm tudo” deixem-me avisar que ter vinte anos é efectivamente
complicado. E que isto não é uma verdade universal, mas devia.
Vinte anos é a idade da agonia.
Das complexidades e das contrariedades. Pior, das incertezas. É a idade em que
se quer tudo e ao mesmo tempo não se quer nada. Se se tiver feito tudo bem
feito aos vinte está a acabar-se uma licenciatura. Parece coisa de gente grande
mas coloca-nos no limbo de não saber bem aquilo que somos. Para a nossa família
passamos de Doutores a jovens rebeldes numa fracção de segundos. Já temos idade
para ter responsabilidades mas ainda desconfiam que não sabemos limpar o pó.
Para a sociedade somos um misto.
Não temos capacidade de assumir grandes responsabilidades e toda a gente tem
medo de contratar um recém-licenciado. Ninguém vê alguém com vinte anos como um
adulto. E, às vezes, nem nós.
Aos vinte queremos começar a
ganhar o nosso dinheiro e imaginamos as coisas que vamos fazer com o primeiro
ordenado. Ao mesmo tempo rezamos por um emprego que não nos obrigue a descalçar
as nossas Converse e a despir as calças de ganga meias rotas. Queremos mostrar
que somos capazes de assumir um posto mas também gostávamos de continuar a ter as nossas noites de Quinta.
Existe uma necessidade um pouco
absurda de viver com pressa. Tem-se pressa para ter uma casa e sair das ordens
dos pais. Pressa para mostrar que somos perfeitamente capazes embora digam que
não. E quando caímos na cama depois de um dia vivido a mil, pensamos que o que
queríamos mesmo era ir dar uma volta ao mundo.
Hoje, aos vinte, vive-se com
medo. Do futuro. Do país. Dos sonhos que temos medo de parecerem absurdos. Há
uma sede enorme de aproveitar as oportunidades porque não sabemos como vai ser
o dia de amanhã. Há um medo terrível de falhar, de não conseguir ser
suficientemente bom.
Repito: aos vinte quer-se tudo e
não se quer nada. Gostamos do ritmo da frase “Que bom. Já tem vinte anos” mas
suspiramos de alívio quando nos dizem que “ainda só tem vinte” e percebemos que
não faz mal não gostar de saltos altos e sonhar com a volta ao mundo.
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