6 de agosto de 2014

O limbo

É difícil ter vinte anos. Apesar de saber que neste momento está alguém a dizer “Desgraçada, ter vinte anos é facílimo. Vocês têm tudo” deixem-me avisar que ter vinte anos é efectivamente complicado. E que isto não é uma verdade universal, mas devia.
Vinte anos é a idade da agonia. Das complexidades e das contrariedades. Pior, das incertezas. É a idade em que se quer tudo e ao mesmo tempo não se quer nada. Se se tiver feito tudo bem feito aos vinte está a acabar-se uma licenciatura. Parece coisa de gente grande mas coloca-nos no limbo de não saber bem aquilo que somos. Para a nossa família passamos de Doutores a jovens rebeldes numa fracção de segundos. Já temos idade para ter responsabilidades mas ainda desconfiam que não sabemos limpar o pó.
Para a sociedade somos um misto. Não temos capacidade de assumir grandes responsabilidades e toda a gente tem medo de contratar um recém-licenciado. Ninguém vê alguém com vinte anos como um adulto. E, às vezes, nem nós.
Aos vinte queremos começar a ganhar o nosso dinheiro e imaginamos as coisas que vamos fazer com o primeiro ordenado. Ao mesmo tempo rezamos por um emprego que não nos obrigue a descalçar as nossas Converse e a despir as calças de ganga meias rotas. Queremos mostrar que somos capazes de assumir um posto mas também gostávamos de continuar a ter as nossas noites de Quinta.
Existe uma necessidade um pouco absurda de viver com pressa. Tem-se pressa para ter uma casa e sair das ordens dos pais. Pressa para mostrar que somos perfeitamente capazes embora digam que não. E quando caímos na cama depois de um dia vivido a mil, pensamos que o que queríamos mesmo era ir dar uma volta ao mundo.
Hoje, aos vinte, vive-se com medo. Do futuro. Do país. Dos sonhos que temos medo de parecerem absurdos. Há uma sede enorme de aproveitar as oportunidades porque não sabemos como vai ser o dia de amanhã. Há um medo terrível de falhar, de não conseguir ser suficientemente bom.

Repito: aos vinte quer-se tudo e não se quer nada. Gostamos do ritmo da frase “Que bom. Já tem vinte anos” mas suspiramos de alívio quando nos dizem que “ainda só tem vinte” e percebemos que não faz mal não gostar de saltos altos e sonhar com a volta ao mundo.

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