24 de maio de 2013

O Martim e os meus efeitos retardados

Correndo o risco de parecer meio retardada e completamente fora do que se passa com a humanidade, só hoje vim falar do Martim. Quero dizer, antes de mais nada, que este fenómeno e esta capacidade que existe de conseguir tornar uma resposta tão simples em algo tão viral me intriga. Mas, passando à frente, vamos então falar do Martim.
O Martim tem 16 anos, ao que parece é de Cascais (li por aí e ser de Cascais é logo meio caminho andado para falar mal) e criou uma marca de roupa - a Over It. Ao que parece também, o Martim esteve num programa do Prós & Contras e, quando abordado por uma criatura de nariz empinado que diz que é doutorada em coisas-que-não-faço-agora-ideia sobre a origem das suas camisolas e o ordenado de quem as fabrica, respondeu que era melhor ganhar o ordenado mínimo do que estar desempregado.
Toda a confusão que se gerou entretanto só mostra o quão limitado, pacóvio e ingrato é o povo português. Não querendo generalizar (até porque se o fizesse estava a dizer mal de mim e isso não era nada fixe) tenho cá para mim que o problema da maioria das pessoas que disse mal do rapaz tem é uma valente dor de corno e provavelmente acorda todos os dias contrariado e de mal com a vida.
Claro que agora o problema é o Martim ser de Cascais, o problema é ele ser rico porque todas as pessoas de Cascais são ricas mesmo que não tenham um tostão, o problema é ele achar que as pessoas vivem bem com o ordenado mínimo quando ele mal sabe o que é a vida e o que custa ganhar 400 e tal euros. É, é isso. O problema mesmo é toda a gente opinar, toda a gente falar do que não sabe, dizer mal, falar só porque sim e colocar defeitos em tudo o que os outros fazem.
Meus caros, ao menos fazem. Ao menos não andam a ocupar o tempo a escrever disparates como este. Ao menos acreditaram que conseguiam fazer alguma coisa de diferente, de novo, de importante. Mas como bons pacóvios, o que importa é deitar abaixo. É dizer ao rapaz que ele é um valente de um inútil e que o que ele devia era saber o que é ganhar o ordenado mínimo. Todos nascemos para fazer alguma coisa, mas uns ocupam tanto tempo a dizer mal dos outros que não sobram segundos para utilizarem nos seus talentos.
Caso ainda não tenham percebido, caso ainda não tenham atingido o raciocínio básico, o mundo gira mesmo assim. É esta a lógica. O Martim criou uma ideia de negócio e paga a um fornecedor para lhe fazer as camisolas. Ah, esperem, esperem... Se calhar a ideia é não ter ideias nem pedir trabalho às fábricas só porque os funcionários ganham mal, é isso? Não deve ser.
O mundo não pára porque existem pessoas a ganhar o salário mínimo, mal de nós. E o que o Martim fez foi responder a uma provocação que lhe foi feita (mas que em nada tinha que ver com a posição dele). Em directo, sob pressão e com um microfone na mão. Não esteve mal, não insultou ninguém, não feriu susceptibilidades.
Espero que ele, e todos os Martins deste país, tenham o sucesso merecido. Que todos tenham a capacidade de não se deixar influenciar por quem não tem (ou acha que não tem) mais nada que fazer sem ser dizer mal, criticar, rebaixar. Espero que todos os Martins saibam agarrar nas ideias com cabeça e coração, que sejam felizes e que façam pessoas felizes com o seu trabalho.
É isto. Peço imensas desculpas pelo meu efeito estupidamente retardado, mas também ando a ver das minhas ideias. Vamos lá ver se não me perguntam se vou pedir alguma coisa a uma empresa que pague aos colaboradores com o salário mínimo. Era uma chatice, pá.

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